MUNGUNZÁ
A rua onde moro é super pacata, tranquila mesmo. Ao longo do dia, passam
por aqui pessoas vendendo de tudo: frutas, verduras, bolo de milho, gás
etc.
Fico atenta ao “marketing” que esses vendedores da informalidade fazem,
para chamar a atenção para os seus produtos, acho bem interessantes as
frases de efeito, os gritos, as rimas e até a música de fundo que um ou
outro coloca.
Eu identifico todos os serviços, menos um. Tem um homem que passa bem
cedinho, gritando não sei o quê. Eu realmente não sabia o que ele
vendia, até hoje.
Coincidiu de ele estar passando justamente no mesmo instante em que eu
abri a porta pra botar o lixo fora. Era mungunzá o que ele vendia.
Aproveitei e comprei um copo dos grandes, dois reais. Daí, não me contive e falei pra ele:
- Poxa, quase todo dia escuto o senhor passar por aqui, mas nunca
entendi o que o senhor gritava. Se eu soubesse, teria virado sua cliente
há mais tempo.
Ele me olhou meio intrigado, meio surpreso. Fez que ia dizer alguma
coisa, mas não disse. Pegou o dinheiro, ajeitou o carrinho, encheu os
pulmões de ar e começou a andar, gritando:
- MUN-GUN-ZÁ! Olha o MUN-GUN-ZÁ quentinho e gostoso passando... MUN-GUN-ZÁAAA!!!
Eu me diverti à beça. Não sei se ele pensou que eu tivesse problemas de
audição ou se ele finalmente se convenceu de que precisava melhorar a
dicção e mostrar a que veio.
Enquanto olhava o vendedor de mungunzá dobrar a esquina, fiquei pensando
nas diversas situações em que não me fiz entender ou nas tantas vezes
em que não entendi as pessoas.
Falhas de comunicação são as maiores vilãs dos relacionamentos!
Às vezes, por medo ou timidez, não somos muito claros e objetivos em
nossas intenções, em nossos projetos, em nossos objetivos. Outras vezes,
por arrogância ou por subestimar o outro, só ouvimos o que nos
interessa, o que queremos ouvir, e não valorizamos o contexto do
discurso nem o discurso inteiro!
Como consequência, o que temos, então? Confusão, frustração,
relacionamentos arranhados, empregos comprometidos, felicidade
postergada, mungunzá não vendido nem degustado.
A partir de hoje, serei mais incisiva em minhas palavras, em meus
pensamentos. Não permitirei mais que ninguém interprete mal o que eu
digo. Pago qualquer preço por isso, pois a conta a ser paga pelo que se
pressupõe que se diz é sempre muito mais alta.
Lídia Vasconcelos
MUNGUNZÁ
A rua onde moro é super pacata, tranquila mesmo. Ao longo do dia, passam
por aqui pessoas vendendo de tudo: frutas, verduras, bolo de milho, gás
etc.
Fico atenta ao “marketing” que esses vendedores da informalidade fazem,
para chamar a atenção para os seus produtos, acho bem interessantes as
frases de efeito, os gritos, as rimas e até a música de fundo que um ou
outro coloca.
Eu identifico todos os serviços, menos um. Tem um homem que passa bem
cedinho, gritando não sei o quê. Eu realmente não sabia o que ele
vendia, até hoje.
Coincidiu de ele estar passando justamente no mesmo instante em que eu
abri a porta pra botar o lixo fora. Era mungunzá o que ele vendia.
Aproveitei e comprei um copo dos grandes, dois reais. Daí, não me contive e falei pra ele:
- Poxa, quase todo dia escuto o senhor passar por aqui, mas nunca
entendi o que o senhor gritava. Se eu soubesse, teria virado sua cliente
há mais tempo.
Ele me olhou meio intrigado, meio surpreso. Fez que ia dizer alguma
coisa, mas não disse. Pegou o dinheiro, ajeitou o carrinho, encheu os
pulmões de ar e começou a andar, gritando:
- MUN-GUN-ZÁ! Olha o MUN-GUN-ZÁ quentinho e gostoso passando... MUN-GUN-ZÁAAA!!!
Eu me diverti à beça. Não sei se ele pensou que eu tivesse problemas de
audição ou se ele finalmente se convenceu de que precisava melhorar a
dicção e mostrar a que veio.
Enquanto olhava o vendedor de mungunzá dobrar a esquina, fiquei pensando
nas diversas situações em que não me fiz entender ou nas tantas vezes
em que não entendi as pessoas.
Falhas de comunicação são as maiores vilãs dos relacionamentos!
Às vezes, por medo ou timidez, não somos muito claros e objetivos em
nossas intenções, em nossos projetos, em nossos objetivos. Outras vezes,
por arrogância ou por subestimar o outro, só ouvimos o que nos
interessa, o que queremos ouvir, e não valorizamos o contexto do
discurso nem o discurso inteiro!
Como consequência, o que temos, então? Confusão, frustração,
relacionamentos arranhados, empregos comprometidos, felicidade
postergada, mungunzá não vendido nem degustado.
A partir de hoje, serei mais incisiva em minhas palavras, em meus
pensamentos. Não permitirei mais que ninguém interprete mal o que eu
digo. Pago qualquer preço por isso, pois a conta a ser paga pelo que se
pressupõe que se diz é sempre muito mais alta.
Lídia Vasconcelos
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